Entrevista com Editora Sunbee
- nepfanfic
- 19 de nov.
- 6 min de leitura
O NEPF² entrevistou a Editora Sunbee, empresa focada na publicação de livros LGBT+, defendendo a necessidade de inclusão e diversidade no mercado editorial, além da necessidade de reconhecer o talento de escritores de fanfic.
Editora Sunbee: https://editorasunbee.com.br/

1- A Sunbee é uma editora que se compromete a criar um espaço representativo no mundo editorial, como que a empresa lida com o apagamento da comunidade LGBT+ neste ambiente? Que tipo de desafios aparecem na demanda de conteúdo mais diverso?
A Editora Sunbee nasceu por causa da falta de representatividade LGBTQIAP+ e outras minorias. As donas são mulheres e fazem parte da comunidade LGBTQIAP+. Uma é nordestina e a outra é PcD, assim, sabe-se da necessidade de publicar livros para que todas as comunidades possam se sentir vistas e incluídas em uma sociedade que visa um certo padrão, o qual pouquíssimas pessoas alcançam.
Apesar de trabalhar com esse tipo de tema “mais restrito”, nós sabemos também que a literatura LGBTQIAP+ está em vários cantos da internet, basta saber onde procurar. Assim, até agora, não tivemos tantos desafios na demanda de conteúdo mais diverso. Dito isso, é necessário citar que recebemos um número muito maior de histórias de homens gays/bissexuais brancos com corpos padrões, o que nos traz a realidade de que, mesmo dentro da comunidade, nós precisamos e queremos mais representatividade.
2- A fanfic é uma das ferramentas mais preciosas para o combate a falta de representatividade no mainstream, quais são os passos para publicar uma história originada de uma fanfic? Quão importante é dar voz para autores de fanfic?
Quando escrevemos uma fanfic, nós já conhecemos os personagens/pessoas reais, sabemos das características tanto físicas quanto subjetivas, fazendo com que o leitor daquele ship específico não precise de muita explicação para entender mais sobre o desenvolvimento dos personagens e isso é o que mais deve ser mudado quando faz-se a adaptação da fanfic para original.
Não é apenas mudar os nomes, e sim criar todo o contexto e trazer os detalhes, para que qualquer tipo de leitor consiga entender e ver o personagem, mesmo que aquele não esteja inserido no mundo das fanfics.
A importância de dar voz para autores de fanfic é, também, para retirar esse tipo de literatura da margem. Há muito preconceito com essas histórias, como se elas fossem menos que outro tipo de literatura. Mas sabemos que existem autores fantásticos e histórias fantásticas que estão esperando apenas uma chance para vir a público.
3- Em termos de faixa etária, qual o público alvo da Sunbee e quais nichos ainda desejam atingir?
A faixa etária é de adolescentes de 14 a 16 anos, até pessoas jovens adultas. Temos um público até que diverso, quanto a idade. Além disso, temos um número maior de mulheres do que homens.

4- Todos os livros da Sunbee tem capa dura e são criados com um grande foco em detalhe, o que é comum em pequenas editoras. O mercado editorial tem aumentado a etiqueta e diminuído a particularidade da experiência da leitura, pequenas editoras, como a Sunbee, estão combatendo isso de forma impetuosa. Por que é importante para a Sunbee proporcionar produtos de alta qualidade com brindes e qual sua visão no estado atual do mundo editorial em relação ao valor de compra?
Desde a primeira vez que imaginamos a Editora Sunbee, sempre tivemos o foco nessa experiência do leitor, mesmo porque nós, além de escritoras, também somos leitoras, e amamos esses detalhes e esse cuidado que as editoras têm. Nós gostaríamos que os nossos leitores tivessem o tipo de experiência que os fizessem querer cada vez mais ler livros e se apaixonar pelo ato da leitura.
Quanto ao valor de compra, nós temos, hoje, duas modalidades, os livros capa dura e os brochura, pois acreditamos na acessibilidade e na democratização da cultura, abaixando o valor dos livros brochura, mais pessoas conseguem adquirir nossos livros.
Sabemos que o Brasil é um país que não tem uma cultura muito ativa de leitores, e também que governos de direita e extrema-direita têm sempre o objetivo de aumentar os custos dos livros, ou até mesmo censurando-os — como aconteceu há alguns anos na Bienal do Rio e também como está atualmente ocorrendo nos Estados Unidos da América —, com o objetivo de retirar o pensamento crítico e a analise da sociedade dos cidadãos.
A Sunbee reconhece o poder dos livros e como uma história consegue mudar a vida das pessoas, por esse motivo, não fazemos apenas um livro bonito, mas também trabalhamos com valores o mais acessível possível e histórias com representatividades.
5- A Sunbee participou da Bienal do Livro 2025, como foi o preparo para um evento tão grande, e como a experiência contribuiu para a moral da empresa?
A Bienal do Rio de Janeiro de 2025 foi a primeira que a Editora Sunbee participou em um estande sozinha, e só por esse motivo já foi uma experiência maravilhosa, poder enfeitar do jeito que tínhamos imaginado, ver nossos leitores e até mesmo novos leitores nos descobrindo.
Quanto ao preparo, temos muita sorte de que a conversa sobre qualquer questão que temos é fácil entre nós, e além disso, mesmo a Sunbee não sendo uma empresa grande, conseguimos nos organizar bem cada uma fazendo um pouco para que o evento não ficasse tão pesado e nas costas apenas de uma e também que nada fosse deixado para trás.

6- As ilustrações dos livros da Sunbee são um de seus atrativos principais, como funciona o processo de parceria com cada ilustrador?
Nós costumamos sempre estar atentas aos ilustradores que estão nas redes sociais e, assim que o autor nos envia o seu moodboard, nossa diretora de arte consegue avaliar qual estilo ficaria melhor com a ideia do autor e a história.
7- Em um contexto onde a IA está sendo tão utilizada no mundo criativo, qual o posicionamento de vocês enquanto editora no uso de lA nos livros que vocês publicam?
Nós não aceitamos nenhum tipo de uso de IA nos nossos livros, seja nas imagens, na escrita ou até em serviços como o de revisão. Até no nosso contrato tem uma cláusula contra o uso de IA.
Essa questão é bem definida na Editora Sunbee.
8- Quais tipos de fandom vocês diriam que estão em maior densidade nos seus consumidores? Fandoms com KPOP geram uma grande quantidade de conteúdo derivado LGBT+, como fanfics e fanart, vocês percebem a presença deles nas indicações de publicações e nos consumidores ou apoiadores da empresa?
A maioria dos livros de fanfic que temos vem do fandom de BTS. Percebemos um aumento de consumo desse conteúdo desde a época da pandemia, em meados de 2020, e desde então só aumentou.
Recebemos também outros ships de Kpop e um ou outro de literatura, mas, com certeza, BTS é 99% das histórias de fanfic na Editora Sunbee, tanto de livros publicados quanto de manuscritos recebidos.
9- A Sunbee utiliza rótulos como Hot e outras tropes comuns originadas da fanfic, considerando o preconceito em volta de conteúdo criado por fãs e principalmente conteúdo erótico, como a Sunbee se posiciona na legitimidade de histórias hot muitas vezes não consideradas como literatura de verdade, especialmente considerando a misoginia no mercado editorial?
Existe uma tentativa de higienização na vida sexual de pessoas LGBTQIAP+, mas tal qual pessoas heteronormativas fazem sexo, as pessoas LGBTQIAP+ também, em sua maioria, fazem e gostam de ler cenas assim. É legítimo que tenham cenas mais quentes, mas não é essencial, e por isso deixamos os autores decidirem se o livro deles terão ou não.
Além disso, quando tratamos de literatura, é importante perceber que retirar pessoas LGBTQIAP+ da invisibilidade, traz a possiblidade de que pessoas reais se encontrem nos personagens, se descubram e se entendam, e isso também na questão do sexo.
Consideramos cenas de sexo legitimas e importantes, salvo aquelas que não são corretamente trabalhadas, como por exemplo, romantizando estupro.
10- O NEPF² sempre procura apoiar editoras que promovem representatividade e diversidade, se pudesse recomendar um livro da Sunbee para consumidores que ainda não experimentaram leituras LGBT+ para o núcleo indicar no nosso site, qual seria?
Indicamos “A melhor amiga da noiva”, que é uma comédia romântica bem leve e com representatividade sáfica, e também “Para aqueles que vivem”, que é uma baixa fantasia com personagens cativantes e com representatividade negra e aquileana.


"A Melhor Amiga da Noiva" por Livia Medeiros e "Para Aqueles que Vivem" por Juliana Giacobelli.

Entrevista sensacional !!